Nessa reflexão iremos nos basear num texto de Stephen Robbins do livro Teoria das Organizações.
Quando as pessoas se agregam em grupos, o poder é exercido. As pessoas procuram criar um nicho para a partir dele, exercer influência, ser reconhecidas e evoluir profissionalmente. Nas organizações, quando os funcionários traduzem seu poder em ações, dizemos que estão fazendo política. Aqueles com boas habilidades políticas são capazes de utilizar eficazmente suas bases de poder.
A - Definição
As políticas organizacionais essencialmente enfocam o uso do poder para influenciar o processo decisório ou os comportamentos por parte de indivíduos que buscam seus próprios interesses e não são validados pela organização. Conforme Robbins:
“Essa definição engloba os elementos básicos aos quais a maioria das pessoas se refere quando fala de política organizacional. O comportamento político está fora dos requisitos específicos do trabalho de alguém. Esse comportamento demanda uma tentativa de utilização das bases de poder de cada um.”
Quando usa seu poder de influência individual age despoticamente, para garantir vantagens para si próprio, dizemos que existe abuso de poder. Continua Robbins:
“nessa definição são esforços para influenciar os objetivos, os critérios ou o processo decisório, quando afirmamos que a política está voltada para a "distribuição de vantagens e desvantagens dentro da organização.
Nossa definição é suficientemente ampla para incluir vários comportamentos políticos, como a retenção de informações-chave para os tomadores de decisões; a denúncia de colegas; a divulgação de boatos; vazamento de informações confidenciais sobre as atividades da empresa para a mídia; a troca de favores com outras pessoas na organização para benefício mútuo; e o lobby a favor de um determinado indivíduo ou de uma decisão dentro da empresa”.
Robbins coloca em discussão em seu livro Teoria das Organizações a questão da "legitimidade-ilegitimidade" do comportamento político. Explica então:
“O comportamento político legítimo se refere à política normal do dia-a-dia reclamar com o chefe; ultrapassar a cadeia de comando; formar coalizões; obstruir as políticas ou decisões organizacionais por meio de inação (falta de ação, inércia) ou de apego excessivo às regras; e o desenvolvimento de contatos fora da empresa por meio das atividades profissionais.
De outro lado, temos os comportamentos políticos ilegítimos, que violam as regras estabelecidas do jogo. Aqueles que se dedicam a essas atividades extremas são geralmente descritos como indivíduos que 'jogam sujo".
As atividades ilegítimas incluem sabotagens, denúncias de colegas, protestos simbólicos como o uso de roupas inadequadas ou buttons de protesto, e grupos de funcionários que se declaram simultaneamente doentes.”.
B - A realidade da política
Não há como negar que a política, assim como uma condição do homem social, é um fato da vida nas organizações.
O sinal vermelho acende exatamente quando essa função, inerente à dinâmica das organizações começa a ser utilizada de forma inconveniente.
C - Fatores Organizacionais
Robbins acrescenta as correlações entre a política e cultura organizacional e a gestão econômico-financeira:
“Embora reconheçamos o papel que as diferenças individuais podem ter em fomentar as atividades políticas, as evidências indicam mais fortemente que são certas situações e culturas que promovem a política. Mais especificamente, é mais provável que a política venha à tona quando os recursos de uma organização estão declinando, quando o padrão existente de recursos está mudando...”
D - A ética no comportamento político
Concluímos nossa discussão sobre política oferecendo algumas orientações quanto à ética (Moral!) desse tipo de comportamento. Embora não existam critérios absolutos para diferenciar as ações políticas éticas (morais) das antiéticas (imorais), há algumas questões que merecem ser consideradas.
Imaginando uma “árvore de decisões” como um fluxo a ser seguido a visualizamos baseada nos três critérios éticos de decisão (tipologia definida por Robbins) — utilitarismo, direitos e justiça:
1 - Utilitarismo - conflito entre os interesses pessoais e os objetivos organizacionais.
2 – Direitos das outras partes. O gestor de uma determinada unidade da empresa vasculha documentos do pessoal de outro gestor, estará flagrantemente faltando com a ética.
3 – Justiça – Políticas, normas e competências gerenciais devem estabelecer limites e propiciar direitos iguais a todos, como por exemplo, avaliar funcionários que concorrem a alguma promoção com os mesmos critérios e requisitos, evitando avaliar por critérios de preferências pessoais, etc..
E – O estagiário e a política organizacional
Condição implícita ao estagiário no contexto organizacional é a de que ele é um profissional em começo de carreira. Salvas algumas exceções, alguns fatores inerentes ao profissional inserido numa organização, o estagiário não deverá ainda ter sua percepção aguçada a ponto de discriminar as atitudes políticas, divisões de opinião, competições indesejadas, problemas éticos causados por interesses particulares, etc...
Essa questão é mais um dos cuidados que o estagiário deverá tomar diariamente, recorrendo continuamente ao seu tutor, ou mentor, como alguns preferem denominar.
O ideal nesses momentos é que se abstenha de posicionamentos radicais, focando exclusivamente seu trabalho e seu aprendizado.
Quanto ao seu mentor uma forma de conduzir a orientação do estagiário seria adotar a classificação que sugerimos a seguir:
1 – Exclusão involuntária – zelar para que o estagiário esteja permanente à parte de qualquer posicionamento político; ele ainda não possui elementos suficientes para uma tomada de posição, e isso poderá prejudicá-lo;
2 – Exclusão orientada – quando o mentor perceber que o estagiário não deve aderir a algum movimento de mudança, na medida em que se tratar de posição radical, contrária à cultura (valores) da organização, prejudicial aos resultados da empresa ou ao relacionamento interpessoal do estagiário. O que pode ser aceitável, é que sob orientação do mentor o estagiário busque esclarecimentos técnicos sobre alguma tomada de decisão;
3 – Exclusão moral/ética – quando o mentor perceber que o conflito sucede entre grupos cujas opiniões ferem princípios morais e a ética, seja humana, seja organizacional, seja social etc...
Devemos salientar ao final desta reflexão que há interesses tanto da parte da empresa, extensivamente ao Mentor/Tutor do estagiário, como também um fator a ser aprendido pelo estagiário durante seu processo de estágio.
Estagiário - Para que isso ocorra de forma satisfatória, o estagiário deverá adotar um reporte diário ao mentor, apresentando suas dúvidas e seus sentimentos a respeito de crises que perceber. Assim, terá a orientação necessária e permanecerá livre desse fenômeno que vimos ser tão comum nas organizações. Seu estágio estará protegido e poderá chegar a um bom êxito
Empresa/Mentor – Inclusão de item específico sobre este tema no conteúdo instrucional do Programa de Estágio, bem como disponibilidade de tempo do Mentor,e proximidade mentor – estagiário. Deverá ocorrer acompanhamento formal do programa item a item, em encontros mensais reservados para este fim. Esses encontros ocorrerão entre o Mentor e o estagiário com o RH à disposição para eventuais auxílios e esclarecimentos.
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